segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

UMA & TODAS ELAS - INTERCULTURAL




Através de uma visão peculiar, essas artistas expõem e se expõem em sua arte, procurando apresentar o que muitos não conseguem manifestar. Não pela falta de capacidade ou estudo, mas pela visão. Visão feminina.

Ao analisar as produções, o espectador poderá notar que os detalhes contidos neste recorte – tanto da produção artística dessas mulheres como em um contexto geral da arte contemporânea – são efetivamente femininos. Porém, não se trata de discurso feminista ou qualquer intenção nesse sentido. Ao chamar a atenção para as minúcias, talvez o espectador possa entender as multiplicidades que a mulher contemporânea apresenta e consegue gerir.

Numa brincadeira de cores e luzes, Ana Valéria Caetano interpreta a contraposição através da densidade e da leveza quando fotografa balões sob o efeito da luz negra. Sob sua visão, o lado escuro representa o peso em que se sente em alguns momentos da vida. O que Caetano quer evidenciar com seu trabalho é a luz, que aparece como as cores dos balões submetendo, assim, à sensibilidade. Mesmo dando a impressão de densidade, o material do balão contrapõe à leveza do ar e suas cores deixam as imagens ainda mais delicadas.

Leveza e sensibilidade estão também presentes no trabalho de Bruna Klim. Através da fotografia, a artista aborda na série Aprofundar, “a imersão do feminino simbolizado por mãos de uma mulher em um espelho d’água. Dando uma sensação do desejo de mergulhar em um meio mais fluido e transparente com um tato, e sensação diferentes do elemento em que transita com maior frequência, o ar”. Este meio, ou espaço, inclui na discussão da artista na série O Corpo no Espaço, e tem como referência os trabalhos da fotógrafa norte americana Cindy Sherman. Como autorretrato, coloca-se em lugares aleatórios buscando identificação nestes espaços.

            Identificação e espaços. Usados como autoanálise, a pesquisa da artista Sooz Lillend iniciou com gravuras que representam a “descoberta de um espaço em branco, por uma personagem que se desenvolve e se descobre”. Essas imagens trazem, na sequência de um pensamento de autoanálise, as Mandálias, apelido dado às mandalas, pela semelhança com flores de dália. Para a artista, esse desenvolvimento significa “um momento de silenciar a mente e deixar a linha fluir organicamente”, o que traz em seguida uma exteriorização, onde as linhas começam a apresentar um espaço, surreal nas Sucessões I, II e III.
 
           Já Cristina Gaio utiliza o autorretrato entrando em pinturas de grande importância dentro da história da arte. Velásquez e Gauguin retratam o nu feminino em poses clássicas e Gaio assume o lugar dessas modelos "mostrando sua feminilidade e me apropriando da criação dos artistas", explica. A preferência por obras conhecidas tem como intenção buscar na memória do espectador essas imagens exteriores.

 
Sinara Freitas, Ana Valéria Caetano, Bruna Klim, Sooz Lillend, Daniele Santos e Cristina Gaio.
Atrás, os trabalhos de Danna Durãez.

Imagens. Sem precisar ir tão longe, o espectador pode resgatar algumas recordações.  Ao achar um vestido utilizado por ela quando criança, Danna Durãez buscou em suas lembranças aqueles momentos de uma infância que não conseguia lembrar. Através da fotografia, utilizando tecnologia digital e manipulação de imagens, a artista criou a série intitulada Memórias para transmitir sua ansiedade de tentar reconstituir seu passado, colocando-o como em um sonho.

Entretanto, sonhos, geralmente, não são lineares, diluem-se. Diluem-se como aquarela num papel. Para Daniele Santos, formas orgânicas representadas pela aquarela que desliza sobre o papel, fazem referência à natureza. A série apresentada sob o título Desilinearidade? teve origem em outra pesquisa da artista chamada Concreto ao Diluído, que “mostra a aquarela como matéria e seu processo para chegar as nuances”. Ainda: “a partir desse trabalho comecei a pensar nas plantas, busquei as formas que as compõem, fazendo com que as figuras sejam abstratas, mantendo a delicadeza e feminilidade”. Muito evidente em sua produção, Santos consegue expor claramente sua proposta.

Outro lado da delicadeza feminina está no trabalho Sua Linda, de Sinara Freitas. Sua pesquisa gira em torno de questões sociológicas, utilizando a imagem da mulher como objeto sexual e sua relação na mídia voltada para as massas. Porém, explica que a sua intenção não é resolver nenhum tipo de questão filosófica. Freitas compara ao pensamento popular ‘o ovo ou a galinha’: “esse estereótipo de mulher é passado porque é disso que o povo gosta, ou o povo gosta disso porque é esse o estereótipo de mulher que lhe é passado?”. Em observações sobre sua pesquisa expõe a questão da educação como fator primordial: “Quanto menos acesso à educação uma pessoa tem, mais seus assuntos, seus interesses vão estar ligados com sobrevivência animal: violência - a disputa por seu território, comida, poder - e sexo - instinto natural de sobrevivência, perpetuação de seus genes”. Apesar da seriedade em que trata esses temas, seus trabalhos sempre tem uma pitada de humor – neste ficou por conta do título, e a artista justifica que é popularmente usado como uma forma mais elegante para o adjetivo “gostosa”.

 
Fátima, Alessandra Oliveira, Márcia Bony e Dagmar Karpinski.

PERSONA 2 - CENA HUM

 


Com a mesma proposta da primeira exposição, Persona 2 traz “a máscara” como objeto subjetivo de estudo, expondo questões sociais, psicológicas, emocionais e de identidade. O termo personagem – do latim persona – tem origem no teatro grego, onde era exigida uma máscara de cada um deles, para que os caracterizassem em situações específicas.

Trazendo esse pensamento para a atualidade, é certo que a persona estará implícita se o indivíduo estiver consciente de sua existência. Cada uma das situações, lugares ou pessoas próximas poderão trazer a persona específica para tais circunstâncias. Stuart Hall coloca bem esse pensamento: “O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o eu real, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que estes mundos oferecem”. Os artistas exploram esta ideia de diversas formas, através da fotografia, pintura digital e ilustração.




Com a série “Bom Dia”, Manolo Almeida e Sinara Freitas utilizam a fotografia para mostrar, através de suas próprias expressões faciais ao acordar, questões sociológicas de um casal de classe média durante os cinco dias úteis de uma semana. O interessante deste trabalho é que os artistas estão desprovidos da persona e deixam-se fotografar de uma maneira que muitas pessoas preferem não se mostrar. O espectador poderá notar que as expressões de Freitas vão se tornando cansadas ao final da semana, diferentemente de Almeida que expressa alegria e disposição ao saber da aproximação do descanso semanal.



Caracterizadas como Pintura Digital ou Intersecção de Imagem, as obras de Eduardo Biss trazem as máscaras como as máscaras da alma, onde refletem os sentimentos mais profundos. Resume sentimentos traduzidos em expressões ou como o próprio artista comenta: “Seu eu é o reflexo do que você é. Assim como um artista, que precisa compreender e conhecer seu interior para transmiti-lo para a obra, nós temos que nos enxergar, para nos entender". O artista consegue aproximar uma percepção tênue entre o abstrato e o figurativo mesclando formas e cores e instigando o público a descobrir cada detalhe do seu trabalho trazendo, dessa forma, a identidade.



Persona fala também de identidade. Identidade a descobrir, identidade descoberta. É a identidade que marca o personagem e transporta o ator para o autoconhecimento. Atlan Coelho dispõe do tempo para questionar a identidade adquirida. Diz Ivo Coelho, pai do artista, sobre a obra em exposição:


Tempo presente, passado, e futuro.

Carga de saber, de força e esperança.

Movimento quase imperceptível da

Vontade e da transformação de

Fatores de dinâmica incontestável

Da grandiosidade do pequeno

A fragilidade do maior

Da intensidade de vida por viver e da vida vivida intensiva

Retratada com o peso do fardo das agruras e alegrias,

Das lágrimas e dos sorrisos

Agora estou assim

Me vêem assim

Assim me vejo

Eu fui assim

Assim eu sou.


 
Assim como no teatro, nas obras de Persona 2 há vida, inspiração, emoção, poesia: tradução da intensidade do viver. Do amor, do ódio, do riso, das lágrimas. Viver e se emocionar.

domingo, 27 de janeiro de 2013

PERSONA - INTERCULTURAL



O nome persona vem do latim e, segundo o psiquiatra suíço Carl Jung, significa máscara, que remete ao teatro grego originando o termo personagem, ou seja, cada um dos personagens exigia uma máscara que os caracterizassem em situações específicas. Trazendo esse pensamento para a atualidade, é certo que a persona estará implícita se o indivíduo estiver consciente de sua existência. Cada uma das situações, lugares ou pessoas próximas poderão trazer a persona específica para tais circunstâncias. Com grande diversidade em suas linhas de trabalho e pesquisa, os artistas exploram e questionam o significado das expressões de faces e máscaras dentro de universos filosóficos, sociológicos e comportamentais.

     
 
Caracterizadas como Pintura Digital ou Intersecção de Imagem, as obras de Eduardo Biss trazem as máscaras como as máscaras da alma, onde refletem os sentimentos mais profundos. Resume sentimentos traduzidos em expressões ou como o próprio artista comenta: “Seu eu é o reflexo do que você é. Assim como um artista, que precisa compreender e conhecer seu interior para transmiti-lo para a obra, nós temos que nos enxergar, para nos entender". Compostas por 10 impressões, o artista consegue aproximar uma percepção tênue entre o abstrato e o figurativo mesclando formas e cores e instigando o público a descobrir cada detalhe do seu trabalho, da mesma forma que Andrey Santos utiliza elementos tribais, independentemente da cultura e costumes de um povo específico. Feitos em nanquim sobre papel, os trabalhos de Santos evidenciam em sua pesquisa, questões de identidade não só pessoal, mas também com relação a determinado grupo ou, como são chamados hoje, tribos, que possibilitam dialogar entre si, pois apesar das máscaras, a essência pessoal ou a identidade permanece íntegra no interior de cada indivíduo.

 
 
Yuri Rosa evidencia em seus 10 desenhos de grafite sobre papel, inserindo a este conceito de essência pessoal, os pensamentos dos britânicos, o naturista Charles Darwin e o físico Stephen Hawking. O artista consegue contextualizar a ideia da água, elemento essencial à vida, aos estudos de física quântica de Hawking e explica: “Uma das teorias pelas quais fiquei fascinado é a teoria dos universos paralelos, a qual o livro (O Universo na Casca de uma Noz) afirma que existem vários outros universos e, dentro deles, várias outras possibilidades de histórias, podendo existir você mesmo dentro deste outro universo, mas com uma história completamente diferente”. Sua pesquisa faz uma analogia não só com a água, mas com os outros elementos da natureza, questionando, assim, a ideia de ser imprevisível, incontrolável e caótico, não necessariamente referindo-se aos outros universos, mas sim com a possibilidade de não existir o controle dos elementos.

 
Esse descontrole é um questionamento que, para Felipe Segalla, hábitos em excesso como ingestão de café e o fumo são temas de discussão trazendo para sua produção os próprios materiais, pois além de tinta a óleo, o próprio café faz parte da composição em algumas produções. Em suas 4 telas, discute não só os malefícios do excesso da cafeína e do cigarro, como também seus efeitos na atualidade: “Tais substâncias, por piores que sejam, são o gás do mundo moderno. Dão cor ao caos e aliviam a mente, no olho do furacão”, significando uma pausa reconfortante diante das exigências da vida, na visão de Segalla.


Com a série “Bom Dia”, Manolo Almeida e Sinara Freitas utilizam a fotografia para mostrar, através de suas próprias expressões faciais ao acordar, questões sociológicas de um casal de classe média durante os cinco dias úteis de uma semana. O interessante deste trabalho é que os artistas estão desprovidos da persona e deixam-se fotografar de uma maneira que muitas pessoas preferem não se mostrar. O espectador poderá notar que as expressões de Freitas vão se tornando cansadas ao final da semana, diferentemente de Almeida que expressa alegria e disposição ao saber da aproximação do descanso semanal.
 

Rosângela Crespan - SESC da Esquina


Cotidianamente, alguns objetos são esquecidos ou não são observados com afinco, como grades de janelas e portões e porta de microondas. Porém, para Rosângela Crespan, seu olhar mais criterioso procura as formas que, despercebidamente, protegem ou auxiliam nas várias tarefas corriqueiras ou simplesmente estão esperando para serem notados. Iniciados na fotografia, seus estudos trazem ao público os detalhes destes objetos através da manipulação das imagens, mas mesmo assim, é possível identificar as formas do objeto, mesmo não o reconhecendo à primeira observação.



A partir das fotografias, que por si já são trabalhos prontos, utiliza também como um esboço das suas colagens. Desta forma, oferece ao público sua criação harmônica do conjunto da obra. Em uma delas busca inspiração no colorido que a estática coleção de discos de vinil na estante deixam de ser inspiração à alma através da audição. Agora as capas dos antigos LP’s abandonadas a inspiram visualmente. Estas várias cores das capas, dispostas verticalmente, remetem às listras do minimalismo e da op art. O trabalho de Rosângela Crespan se insere nos conceitos destes movimentos do início do século passado tanto pela combinação de tons e pelas formas geométricas como pela colagem.



Salientar, entretanto, o resgate histórico da técnica é o que Crespan propõe. E, por mais que pareça pintura, se observado a certa distância, a artista utiliza a técnica iniciada por Braque e Picasso no cubismo para transpor suas observações cotidianas sobre uma base de madeira onde se constitui lentamente o jogo de cores estudado e estruturado para determinado trabalho.

LEMBRANÇAS, VESTÍGIOS E CARAPUÇAS

De Alberto Portugal
" Data: 08 a 28 de Outubro de 2010
" Local: Galeria PROEX - UEPG


Acesse e assista ao documentário exibido na exposição:
http://www.youtube.com/watch?v=ExsnxCeyAkg&feature=player_embedded
 
Silêncio. Escuridão. Lugares escuros. Pessoas obscuras.

A exposição de Beto Portugal Lembranças, Vestígios e Carapuças traz muitos significados que poderão ter um sentido parcial para algumas pessoas, pois faz parte da vivência do artista que exprime em formas e figuras uma época farta de obscurantismo relacionada à sociedade sombria de um período inesquecível. Inexistente? Invisível? Não. Claro, evidente, aparente e perceptível.

Manifesto. Desabafo.

Portugal transforma estas lembranças em irônicas peças artísticas tratando como um desabafo os vestígios de uma situação ameaçadora. O espectador irá desfrutar daquilo que quiser enxergar.

Evidências. Aparências.

Composta por seis trabalhos, a série Caixas apresenta alguns personagens reais. Crítica ou denúncia silenciosa? Talvez. Contudo, utiliza a assemblagem para compor as peças com tecidos, bonecos, fitas e papéis dentro de caixas de madeira. Em algumas delas, pode-se perceber como graciosas e aparentemente infantis pela presença de bonecos e cores que o artista escolhe, mas em outras, a facilidade para sentir o desconforto que causa um mal estar em quem aprecia a obra. Da mesma forma que a série Alimentos, onde instiga o público a pensar em como vícios e hábitos podem trazer consequências não tão prazerosas em relação ao momento em que são usufruídas. Alimentos para o corpo e para a alma: ao tempo em que sociabilizam, afastam o indivíduo e podem gerar situações conflituosas.

Oposição. Desordem. Barulho.

Um piano de cauda e estilhaços de vidros para todos os lados. Caos. Impossível não perceber. Significados que trazem lembranças chocantes. Inerte na memória de quem viveu e sobreviveu.

Sobrevida. Outra vida.

Agradecimentos especiais a todos aqueles que tiveram envolvimento e opinaram pelo melhor caminho a seguir. Não fosse isso, Beto Portugal não seria quem é hoje e não teria a bagagem e o conteúdo suficientes para produzir estes trabalhos com tanta riqueza de detalhes e, de certa forma, bem humorados que levam o espectador a se divertir e refletir sobre a vida. “Dia vai, dia vem e eu ainda sou o mesmo”. Frase extraída do vídeo Reflexos da Metade, onde o artista pondera sobre sua vivência.

Experiência. Ilusão.

Disfarce da realidade. Poder. Reinado de mentira onde se faz o que bem entende. Carlota Joaquina diz: “Desta terra não levarei nem o pó”. Dona de uma forte personalidade, Dna. Joaquina foi, além de prepotente e arrogante, violenta. Parecer real. Lembra o polêmico artista americano Andy Warhol que, como excelente publicitário, construiu uma imagem como a Marilyn Monroe foi construída. E vendida (o popular vende). E ele chegou lá. Alcançou a fama, conquistou fortunas. Mas quem era Warhol como pessoa? E Marilyn além da imagem? Vale a pena esquecer do essencial e substituir pela imagem? Imagem não é real.

Rotular. Adornar. Cobrir.

Para alguns, poderá parecer uma crítica. Para outros, um desabafo. Vingança? Não. Definitivamente. Na peça solitária encontrada no pequeno beco escuro, o espectador poderá imaginar como seria se encontrar desta maneira. Entretanto, a veste intitulada Carapuça dá a sensação que falta algo. Sim, o gorro que esconde a face. Escuro. Esconder. Não será necessário um esconderijo porque muitas pessoas não cabem no pequeno beco.