Através de uma visão peculiar, essas artistas expõem e
se expõem em sua arte, procurando apresentar o que muitos não conseguem
manifestar. Não pela falta de capacidade ou estudo, mas pela visão. Visão
feminina.
Ao analisar as produções, o espectador poderá notar
que os detalhes contidos neste recorte – tanto da produção artística dessas mulheres
como em um contexto geral da arte contemporânea – são efetivamente femininos.
Porém, não se trata de discurso feminista ou qualquer intenção nesse sentido.
Ao chamar a atenção para as minúcias, talvez o espectador possa entender as
multiplicidades que a mulher contemporânea apresenta e consegue gerir.
Numa brincadeira de cores e luzes, Ana Valéria
Caetano interpreta a contraposição através da densidade e da leveza quando
fotografa balões sob o efeito da luz negra. Sob sua visão, o lado escuro
representa o peso em que se sente em alguns momentos da vida. O que Caetano
quer evidenciar com seu trabalho é a luz, que aparece como as cores dos balões submetendo,
assim, à sensibilidade. Mesmo dando a impressão de densidade, o material do
balão contrapõe à leveza do ar e suas cores deixam as imagens ainda mais delicadas.
Leveza e sensibilidade estão também presentes no
trabalho de Bruna Klim. Através da fotografia, a artista aborda na série
Aprofundar, “a imersão do
feminino simbolizado por mãos de uma mulher em um espelho d’água. Dando uma
sensação do desejo de mergulhar em um meio mais fluido e transparente com um
tato, e sensação diferentes do elemento em que transita com maior frequência, o
ar”. Este meio, ou espaço, inclui na discussão da artista na série O Corpo no Espaço, e tem como referência
os trabalhos da fotógrafa norte americana Cindy Sherman. Como autorretrato,
coloca-se em lugares aleatórios buscando identificação nestes espaços.
Identificação e espaços. Usados como autoanálise, a pesquisa da artista Sooz
Lillend iniciou com gravuras que representam a “descoberta de um espaço em
branco, por uma personagem que se desenvolve e se descobre”. Essas imagens
trazem, na sequência de um pensamento de autoanálise, as Mandálias, apelido dado às mandalas, pela semelhança com flores de
dália. Para a artista, esse desenvolvimento significa “um momento de silenciar
a mente e deixar a linha fluir organicamente”, o que traz em seguida uma
exteriorização, onde as linhas começam a apresentar um espaço, surreal nas Sucessões I, II e III.
Já Cristina Gaio utiliza o autorretrato entrando em pinturas de grande importância dentro da história da arte. Velásquez e Gauguin retratam o nu feminino em poses clássicas e Gaio assume o lugar dessas modelos "mostrando sua feminilidade e me apropriando da criação dos artistas", explica. A preferência por obras conhecidas tem como intenção buscar na memória do espectador essas imagens exteriores.
Sinara Freitas, Ana Valéria Caetano, Bruna Klim, Sooz Lillend, Daniele Santos e
Cristina Gaio.
Atrás, os trabalhos de Danna Durãez.
Atrás, os trabalhos de Danna Durãez.
Imagens. Sem precisar ir tão longe, o espectador pode
resgatar algumas recordações. Ao
achar um vestido utilizado por ela quando criança, Danna Durãez buscou em suas lembranças aqueles momentos de uma
infância que não conseguia lembrar. Através da fotografia, utilizando
tecnologia digital e manipulação de imagens, a artista criou a série intitulada
Memórias para transmitir sua
ansiedade de tentar reconstituir seu passado, colocando-o como em um sonho.
Entretanto, sonhos,
geralmente, não são lineares, diluem-se. Diluem-se como aquarela num papel.
Para Daniele Santos, formas
orgânicas representadas pela aquarela que desliza sobre o papel, fazem
referência à natureza. A série apresentada sob o título Desilinearidade? teve origem
em outra pesquisa da artista chamada Concreto ao Diluído, que “mostra
a aquarela como matéria e seu processo para chegar as nuances”. Ainda: “a
partir desse trabalho comecei a pensar nas plantas, busquei as formas que as
compõem, fazendo com que as figuras sejam abstratas, mantendo a delicadeza e
feminilidade”. Muito evidente em sua produção, Santos consegue expor claramente
sua proposta.
Outro lado da delicadeza feminina está no trabalho Sua Linda, de Sinara Freitas. Sua pesquisa gira em torno de questões
sociológicas, utilizando a imagem da mulher como objeto sexual e sua relação na
mídia voltada para as massas. Porém, explica que a sua intenção não é resolver
nenhum tipo de questão filosófica. Freitas compara ao pensamento popular ‘o ovo
ou a galinha’: “esse estereótipo de mulher é passado porque é disso que o povo
gosta, ou o povo gosta disso porque é esse o estereótipo de mulher que lhe é
passado?”. Em observações sobre sua pesquisa expõe a questão da educação como
fator primordial: “Quanto menos acesso à educação uma pessoa tem, mais seus
assuntos, seus interesses vão estar ligados com sobrevivência animal: violência
- a disputa por seu território, comida, poder - e sexo - instinto natural de
sobrevivência, perpetuação de seus genes”. Apesar da seriedade em que trata
esses temas, seus trabalhos sempre tem uma pitada de humor – neste ficou por
conta do título, e a artista justifica que é popularmente usado como uma forma
mais elegante para o adjetivo “gostosa”.
Fátima, Alessandra Oliveira, Márcia Bony e Dagmar Karpinski.